terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A luta continua...Hasta siempre comandante!


O líder cubano Fidel Castro anunciou ontem, que não voltará a governar o país, lançando dúvidas sobre o futuro do regime que se prepara para escolher um sucessor dentro de apenas uma semana. Seu irmão Raúl Castro, de 76 anos, segue na Presidência interina e pode ser escolhido o novo líder do país pelo Parlamento no próximo domingo.

Em uma mensagem publicada pelo jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o Granma, Fidel disse que não aceitará o cargo de Presidente do Conselho de Estado, para o qual vinha sendo eleito e ratificado desde 1976 e que "as novas gerações contam com a autoridade e a experiência para garantir a sua substituição". "Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total que não estou em condições físicas de oferecer. Digo-o sem dramatismo", escreveu Fidel, afastado do cargo há um ano e meio para tratamento de saúde.

"A meus queridos compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem ser adotados acordos importantes para nossa Revolução, comunico que não aspirarei e nem aceitarei - repito - não aspirarei e nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-chefe." "Não me despeço de vocês, desejo apenas combater como soldado das idéias".

Fidel disse que continuará escrevendo no Granma, mas sua coluna "Reflexões do comandante-chefe" passará a se chamar "Reflexões do companheiro Fidel".A nova Assembléia Nacional foi eleita no final de janeiro, e deve escolher no próximo dia 24 o novo Conselho de Estado e o Presidente do país. Segundo diplomatas credenciados em Havana, resta confirmar se a mensagem de Fidel ratifica a nova liderança de Raúl, a quem se atribui um pragmatismo e um desejo de reformas para atenuar a aguda escassez de alimentos, casas, transporte e outros produtos e serviços básicos que sofrem os cubanos.

Sobre o anúncio de sua retirada, Fidel Castro afirmou que sempre se preocupou em "evitar ilusões que, no caso de um desfecho adverso, trariam notícias traumáticas ao povo cubano em meio à batalha".

Estado de saúde

Fidel, 81, foi o líder do movimento que derrubou o líder pró-Estados Unidos Fulgêncio Batista em 1º de janeiro de 1959. Ele comandou o regime cubano como primeiro-ministro por 18 anos, passando à Presidência do país por escolha da Assembléia, eleita após a aprovação da Constituição Socialista de 1976.

Desde agosto de 2006, o líder cubano estava afastado em virtude de uma operação. Ele delegou suas funções ao irmão, Raul, que comanda o regime desde então. "Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo", escreveu Fidel, na edição de terça-feira do Granma.

Ele acrescentou que, ao longo deste ano e meio, tentou admitir mas ao mesmo tempo evitar os boatos a respeito de seu "estado precário de saúde". "Preocupou-me sempre, ao falar de minha saúde, evitar ilusões de que no caso de um desenlace adverso, trouxessem notícias traumáticas a nosso povo no meio da batalha." "Prepará-lo para minha ausência, psicológica e politicamente, era minha primeira obrigação depois de tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que se tratava de uma recuperação ‘não isenta de riscos’".

Fidel volta a citar Niemeyer

Na carta em que anuncia sua renúncia, o líder cubano Fidel Castro voltou a mencionar o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

"Penso como Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final", diz a carta, repetindo uma frase que havia sido citada em uma outra carta lida por Fidel em uma transmissão da TV estatal cubana em dezembro.

Fidel afirma que na declaração de dezembro teria dado vários indícios de que estava disposto a renunciar.

A carta [de dezembro] "incluía discretamente elementos desta mensagem que hoje escrevo, e que nem o destinatário das missivas (Randy Alonso, diretor do programa Mesa Redonda da Televisão Nacional de Cuba) conhecia o meu propósito", diz o líder cubano.

A citação a Niemeyer é um dos trechos selecionados por Castro da carta anterior e citados na nova missiva, divulgada nesta terça: "Meu dever elementar não é agarrar-me a cargos, e muito menos obstruir o caminho de pessoas mais jovens, e sim aportar experiências e idéias cujo modesto valor procede da época excepcional que me coube viver". "Penso como (o arquiteto brasileiro Oscar) Niemeyer, que se deve ser conseqüente até o final", acrescentou.

Teu amigo

Na ocasião das comemorações dos 100 anos do arquiteto brasileiro, Fidel já tinha enviado uma carta a Niemeyer, felicitando-o pelo aniversário.

"Muitas felicidades pelo teu aniversário. Que muitas pessoas vivam e possam desfrutar como você de mais de cem anos. Teu amigo", escreveu Castro no final da carta, escrita no dia 10 de outubro. Nesta correspondência, Fidel ainda fez comentários sobre o livro de Niemeyer, O Ser e a Vida, que será lançado neste ano. "Eu o apoio plenamente em sua árdua batalha por estimular o hábito de ler. Você diz que sem a leitura o jovem sai da escola sem conhecer a vida", escreveu Fidel "Ler é uma armadura contra todo tipo de manipulação".

Depois de quase meio século à frente do comando do país, o líder cubano delegou temporariamente, em 31 de julho de 2006, o poder a seu irmão Raul Castro. Fidel havia sido visto pela última vez em público cinco dias antes e em 27 de julho daquele ano, fora submetido a uma cirurgia intestinal.

No dia 1º de agosto, em mensagem à nação, Castro comunicou que seu estado de saúde era estável, mas classificou a informação como um “segredo de Estado”. As primeiras fotos do presidente de Cuba depois da cirurgia foram divulgadas em 13 de agosto, dia em que ele completou 80 anos. No dia seguinte, Fidel apareceu num vídeo ao lado do irmão e do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Em setembro, no jornal oficial do Partido Comunista, o diário Granma, Fidel declarou que “o mais grave de sua saúde ficou para trás”. No dia 13 do mesmo mês, apareceu bastante magro, de pijama, ao receber o jornalista e deputado argentino Miguel Bonasso.

As primeiras imagens de Fidel de pé foram divulgadas no dia 14 de setembro, por ocasião de seu terceiro encontro com Chávez. No final de outubro, depois de seis semanas sem se pronunciar como presidente, ele reapareceu num vídeo para desfazer rumores de que seu seu estado de saúde havia piorado. Fidel assegurou que estava fazendo “todo o possível” para ajudar seu governo.

No final de 2006, Fidel divulgou uma mensagem de saudação ao 48º aniversário da Revolução Cubana e disse que sua recuperação seria “prolongada”, mas que “estava longe de ser uma batalha perdida”. Surgem os primeiros rumores de que o líder cubano estaria com câncer, mas ele desmentiu a versão.

Depois de oito meses de convalescência, Fidel publicou,em março de 2007, seu primeiro artigo em que ataca a política de biocombustíveis dos Estados Unidos. No dia 1º de maio, o líder revolucionário se ausentou das comemorações do Dia Internacional do Trabalho.

Depois, revelou em um artigo escrito em maio do ano passado que teve que se submeter a várias cirurgias, mas que estava melhorando, se alimentando “por via oral” e seu “peso era estável”. No mês seguinte, a televisão cubana transmitiu a primeira entrevista de Fidel desde a cirurgia. O líder cubano não dava sinais de retorno ao poder, mas afirmava que sua saúde não era mais um “segredo de Estado”.

Cuba comemorou com homenagens discretas os 81 anos de idade de seu presidente, completados no dia 13 de agosto de 2007. Em setembro, Fidel reapareceu numa entrevista de televisão, onde não deu declarações sobre seu estado de saúde e ironizou os rumores de que estava para morrer. “Ninguém sabe que dia vai morrer”, disse o líder cubano.

Em dezembro passado, Fidel leu uma carta em rede de televisão e disse que não tinha a intenção de se “apegar” ao cargo, nem de “obstruir o passo” dos jovens, mas que queria colaborar com sua experiência no governo. Ele fazia campanha para o irmão Raul Castro e assegurava que sua candidatura a deputado contava com o apoio dos dirigentes.

Em janeiro, depois de visitar o líder cubano, o presidente Lula assegurou que a saúde de Fidel era “impecável” e que o chefe de Cuba estava “pronto para assumir um papel político". No mesmo mês, Fidel foi eleito deputado, o que abriu as portas para uma eventual reeleição.

Agora, numa carta endereçada ao Granma, jornal oficial do Partido Comunista, Fidel anunciou sua retirada do poder e afirmou que não “aspirará”, nem “aceitará” os cargos de presidente do Conselho de Estado e de Comandante em Chefe.

Fidel tem saudades da União Soviética

O líder cubano Fidel Castro expressou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua reunião do último dia 15, que sente saudades da União Soviética, cujo fim foi, para ele, "como se o sol deixasse de sair".

Foi "um golpe demolidor", acrescenta Fidel na terceria parte do artigo intitulado "Lula", publicado neste domingo (27) pelo jornal oficial "Juventud Rebelde". As duas primeiras partes foram divulgadas na quinta e sexta-feira no jornal "Granma", órgão do comitê central do Partido Comunista.

O Produto Interno Bruto cubano caiu 35% por causa do colapso da União Soviética, e então "muitos partidos e organizações de esquerda se desalentaram", mas Cuba se manteve fiel e firme, lembrou Fidel.

"Não somaríamos as nossas (vozes) ao coro dos apologistas do capitalismo, fazendo lenha da árvore caída. Nenhuma estátua dos criadores ou porta-bandeiras do marxismo foi demolida em Cuba. Nenhuma escola ou fábrica mudou de nome", afirma no artigo.

Fidel relata que falou também a Lula do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, da falta de terras no mundo para semear, da grave situação da África e de atentados e conspirações dos Estados Unidos contra Cuba.

"O pior foi a falta de escrúpulos e os métodos exibidos pelo império para impor seu domínio sobre o mundo. Introduziram um vírus no país e liquidaram as melhores cachaças; atacaram o café, atacaram também os suínos", assegurou.

Ele destacou que, por outro lado, os dirigentes soviéticos, quando Cuba não podia cumprir, devido a estas causas, os envios de açúcar, nunca deixaram de mandar as mercadorias previstas nos contratos.

Fidel Castro, de 81 anos, cumpriu este fim de semana um ano e meio sem aparecer em público, em uma Cuba que aguarda o próximo mês para saber se ele continuará ou não à frente do governo.

Em 26 de julho de 2006, ele falou em Bayamo (província de Granma), na comemoração da fracassada invasão que liderou ao quartel Moncada de Santiago de Cuba, em 1953, e depois se deslocou a Holguín e liderou um ato de inauguração de uma central de energia.

Estas foram suas últimas aparições em público, já que aquela noite adoeceu "gravemente" e pensou que "era o fim", como ele mesmo lembrou no primeiro capítulo do artigo "Lula".

Em outro artigo de sua série intitulada "Reflexões", datado de 14 de janeiro e publicado no dia 16, um dia após receber o presidente brasileiro, Fidel afirmou que não tem capacidade física para participar de atos públicos. "Faço o que posso: escrevo".

Fidel Castro com Mikhail Gorgachev, o criador da Glasnost

O general Raúl Castro poderá assumir formalmente no fim de semana a Presidência de Cuba, com o desafio de modernizar o sistema socialista que herdou de seu irmão Fidel e garantir a sobrevivência do regime, após a saída de cena da velha guarda.

Raúl, de 76 anos, está há quase meio século como número dois de Fidel. A simplicidade e franqueza de Raúl ao abordar os problemas do país despertou em muitos cubanos expectativas de melhorias econômicas durante o um ano e meio que substituiu interinamente Fidel.
Com seu vozeirão grave e pausado, o general afirmou que não há soluções mágicas e, sobretudo, que não se afastará nem um milímetro da linha política implantada por seu irmão.

Raúl já advertiu que os Estados Unidos estão à espera de uma oportunidade para apagar o socialismo cubano do mapa. Ele foi o ministro de Defesa mais duradouro do mundo.
Se Fidel Castro sempre foi movido pelos problemas da humanidade, Raúl parece mais concentrado nas questões internas.

Uma de suas prioridades é revigorar a agricultura para colocar mais alimentos na mesa dos cubanos e poupar para o país algumas centenas de milhões de dólares em importações.

Ele indicou ainda que pretende acabar com um "excesso de proibições" e, segundo alguns, estaria disposto a simplificar os trâmites migratórios e até liberar o mercado imobiliário e de automóveis.
Outras reformas econômicas de maior profundidade, dizem analistas, não serão possíveis enquanto Fidel estiver vivo.

"Todos gostaríamos de marchar mais rápido, mas nem sempre é possível", disse Raúl ao Parlamento, em dezembro de 2007.

Desafios e socialismo

Visto tanto como um potencial reformista como um rígido militar, Raúl deixou entrever qual será seu estilo de governo: baseado no debate e nas decisões coletivas.

Ao apresentar, no ano passado, seu programa de governo, admitiu que os salários são insuficientes, que são necessárias reformas estruturais e que a economia tem que se abrir ao investimento estrangeiro.

Alguns meses depois promoveu um debate nacional sobre os problemas da economia cubana em que participaram, de acordo com estimativas, cinco milhões de pessoas – quase metade da população.

"São enormes os desafios que temos pela frente, mas ninguém duvida da firme convicção demonstrada por nosso povo de que só o socialismo é capaz de vencer as dificuldades e preservar as conquistas de quase meio século de Revolução", afirmou no final de 2007.

Guardião

Esquivo à grande cobertura de imprensa que sempre acompanhou o irmão, Raúl manteve-se em segundo plano. "Sempre fui discreto, essa é minha forma de ser...esclareço que pretendo continuar assim", disse em suas primeiras declarações seguindo-se ao afastamento de Fidel.

Apesar da discrição, sua autoridade é enorme. As Forças Armadas Revolucionárias, que comanda desde o triunfo da revolução, em 1959, controlam 60% dos setores mais dinâmicos da economia cubana, incluindo o turismo e a produção de açúcar.

Em Cuba, seu histórico revolucionário é conhecido de cabeça até pelas crianças. Esteve ao lado de Fidel em todas as batalhas, desde o ataque ao quartel de Moncada, em 1953, até a guerra de guerrilhas que derrubou em 1959 o ditador Fulgencio Batista.

Em meados de junho de 2006, Raúl disse que só o Partido Comunista poderia ser o "digno herdeiro" de seu irmão.

A frase repentinamente ganhou sentido em 31 de julho daquele ano, quando Fidel entregou interinamente o poder a ele devido a motivos de saúde.

"Em seus méritos, seus atributos, sua firmeza, sua lealdade...reconhecemos Raúl como firme guardião da revolução", declarou Ramiro Valdés, outro dos líderes históricos da revolução.

Líder militar

O irmão mais novo dos Castro nasceu em 3 de junho de 1931 na fazenda de sua família em Birán, na província de Holguín, leste de Cuba.

Raúl, convertido ao marxismo muito antes de seu irmão, foi visto no passado como um dogmático que aproximou Cuba da União Soviética.

Dizem que é um homem simples, que faz piadas com os subordinados, tolera críticas e gosta de passar tempo com seus filhos e netos.

Nos quartéis, Raúl é considerado como um homem valente, disposto a se arriscar por seus soldados.

Em ao menos duas oportunidade, pareceu estender uma mão a Washington, anunciando que Havana gostaria de solucionar o conflito na mesa de negociações. Os EUA responderam que não negociavam com um "ditador em espera". Em junho de 2007, Raúl enterrou sua mulher, Vilma Espín, ex-guerrilheira e influente líder feminista.

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