quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

TEMPO CARREGADO - "Faltou pouco para que se tornasse um tornado", diz técnico

Reportagem da FOLHA flagra nuvem funil que se formou em Apucarana, com ventos de até 140 km/h

BR-376, próximo ao Trópico de Capricórnio, região de Apucarana. O tempo começa a fechar e, em meio às nuvens carregadas, observa-se um fenômeno estranho, uma espécie de cone que se forma e começa a descer em direção à terra. A impressão é de um tornado, algo que até então só podia ser visto em filmes ou noticiários internacionais.

Analisando as imagens registradas pela reportagem da FOLHA, Cezar Duquia, do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), informou tratar-se de uma nuvem funil, que se transforma em tornado apenas quando toca o solo. ''Faltou muito pouco para que fosse um tornado'', afirmou o meteorologista, estimando ventos de até 140 quilômetros por hora na área de formação da nuvem funil.

Segundo Duquia, o fenômeno ocorre quando há combinação de três ''ingredientes'': aumento significativo de temperatura, umidade alta e ventos fortes em direções opostas. O registro de nuvens funil é ''relativamente comum'' em áreas com relevo acentuado, exemplo da região de Apucarana, principalmente durante o verão. ''Com o avanço da tecnologia, câmeras de celular que fazem fotos, vídeos, estamos recebendo algumas notificações deste tipo de ocorrência. Mesmo assim, é um lance de sorte conseguir uma imagem dessas'', avalia.

O meteorologista garante que a ocorrência desse tipo de fenômeno não vem sofrendo alterações significativas, e ainda não há estudos provando que o aquecimento global pode acentuar o número de casos de nuvem funil ou até mesmo avançar para tornados.

''Considero muito difícil que o aquecimento global cause um aumento tão significativo na intensidade dos fenômenos. Talvez o impacto seja sentido mais na Europa e em países do Hemisfério Norte. Mas são apenas hipóteses. Tem muitas pesquisas sobre o assunto, mas nada foi provado cientificamente''.

Até por isso, Cezar Duquia não descarta a possibilidade de que um tornado atinja a região norte do Paraná. Segundo ele, a região registra temperaturas próximas dos 40 graus, chuvas de granizo e ventos fortes, fatores que, combinados, podem causar o fenômeno. ''É preciso ter cuidado com o clima, mas também não há motivo para alarme'', ameniza o meteorologista.

Aconteceu por aqui

Em levantamento feito pela reportagem junto à Defesa Civil, foi possível identificar a ocorrência de oito tornados ou trombas d'água no Paraná nos últimos 20 anos. A primeira delas é de 1987, em Prudentópolis (região sul), mas a maioria consta de maio de 1993, quando foram atingidas as cidades de Cantagalo, Capitão Leônidas Marques, Dois Vizinhos, Irati, Lindoeste e Rebouças, nas regiões sul e sudeste do Estado.

O último registro, no dia 9 de novembro de 2007, foi feito na zona rural de Ribeirão do Pinhal, norte pioneiro. Segundo o relatório da Defesa Civil, cerca de 250 pessoas foram afetadas pela ocorrência, mas ninguém ficou ferido.

A região de Apucarana, onde foi feita a imagem da nuvem funil, é responsável pelo único registro de ciclone tropical no Estado. De acordo com a Defesa Civil, o fenômeno ocorreu por volta das 17h15 do dia 1º de outubro de 2001, com ventos de até 150 quilômetros por hora e temporais que desabrigaram cerca de 120 pessoas.

Outra ''revolta da natureza'' foi registrada na primeira semana de 2006, quando um terremoto de 4,3 graus da escala Richter atingiu a região dos Campos Gerais. Moradores de Ponta Grossa, Tibagi, Castro, Imbaú e Telêmaco Borba sentiram a terra tremer, mas não houve registro de ocorrências graves.

Marco Feltrin
Reportagem Local

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